na falta, a gente fala
Grow Your Vision
na falta, a gente fala
Olá,
me fiz fiada na palavra. conversas, histórias, causos, fabulações, piadas. o mundo atravessado pela imaginação se coloca sobre a palavra para ser passado adiante. falar, ler, escrever, escutar, a palavra faz o meio campo natureza-minha humanidade. sempre foi meu trabalho e o que me deu trabalho. aprendi a não saber para escutar.
Bacharel(a) em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e aprendi a aprender. Fiz parte da equipe de Núcleo de Antropologia e Imagem da Universidade e do URBANDATA, Banco de Dados Bibliográficos sobre o Brasil Urbano, como bolsista do CNPQ.
A psicanálise veio um tempo depois, foi preciso viver para saber. Inicio os estudos numa pós-graduação que quase concluo, mas dessa gestação nasce, além do desejo pelo ofício de psicanalista, minha filha. A maternidade me matou e ressuscitei outra. Começo minha formação permanente no Corpo Freudiano Escola de Psicanálise, e, quando me autorizo, a clínica. Essa caminhada tem mais de uma década.
A literatura sempre esteve, como tantas outras mulheres dissidentes, eu também fui salva pelo possibilidade de produzir algum saber que juntasse as pontas e desse algum sentido. Os livros me ampararam, e seguem até hoje fazendo mediação entre o mundo e minha subjetividade.
"Lavoura da Palavra", uma Oficina Literária vivida numa escola, voltada para os professores, aproximando eles dos livros. A literatura as vezes pede certas entregas que ficam mais fáceis quando estamos de mãos com mãos. Foi em 2011.
"Gineceu - Rede de Apoio à Maternidade", uma iniciativa voltada à formação de uma rede de apoio a quem materna e ao compartilhamento de saberes comuns às famílias dessa rede. Desde então foram alguns trabalhos lindos que aconteceram. Teve o "1,2,3 Salve todos", teve a Feira de Troca de Brinquedos, a festa que fechava o projeto Consumo na Infância, grupos de apoio à gestantes e sua família, palestras, intervenção em praças públicas, grupos reflexivos, etc (o arquivo mais completo está no facebook) . A roda sempre girando em torno de pensar a maternidade da parte de quem materna, mas sem tirar os olhos das crianças. Começou em 2015.
"Leia-se - Rodas de Leitura e Literapia", uma vivência literária cujo método foi pensado considerando a literatura como manifestação universal, a palavra como constitutiva do sujeito, matéria prima do pensamento. Portanto lugar privilegiado de trabalho em muitas frentes, como a sensibilidade, a inteligência, a escuta do outro e a fala pro outro, além de um dispositivo terapêutico pela catarse, pelas epifanias, enfim, por todas as aberturas produzidas no encontro com o texto. Começou em 2018.
"Leitura Comentada - Textos de Freud", veio da vontade de compartilhar o que vale sempre revisitar. A formação é permanente, e o desejo de troca pela transmissão também. Começou em 2021.
"Grupo de Estudos dos Corpos Gravídicos à Função Materna", é permanente o desejo pela produção de saberes alinhados com as transformações sociais que produzem novas possibilidades de inserção das pessoas que maternam no campo da cultura. Para além de um grupo de estudos, sentimos, percebemos e teorizamos, construindo um dispositivo de escuta analítica com desdobramentos para produções de escrita teórica e artítica que impactaram diretamente mais de trinta mulheres ao longo do percurso até aqui. Começou em 2023.
Minha história
a mãe, primeira dona da palavra, me ofereceu aquilo de brinquedo sem imaginar que inaugurava tanto. do colo das histórias dela parti para os livros, todos. o acervo da igreja, da biblioteca da escola pública. clássicos porque não havia para além disso. nas escolhas que se seguem e hegemonia da palavra era o que trazia luz ao túnel da vida, aquela que só acaba quando termina. éramos cinco, mas olhando de perto podia ser legião. a vida familiar, o céu e inferno nosso de cada e todo dia. o adolescer veio cheio de certezas, a juventude de experimentar essas certezas e ver uma a uma espatifada no chão, produzindo um mosaico tão mágico que foram precisas muitas separações para ver a cara do que não é certeza. adulta mesmo só depois de saírem de mim as duas crianças guardadas sem dar conta até que as pude contar.
a vida é curta, mas infinita nas suas possibilidades e isso afunda a gente num tempo-espaço cuja medida é só sentimento, então sem medida.
minha história é a de uma mulher, brasileira, periférica, formada pela rede pública, por pais que acreditaram no poder de uma formação consistente e fizeram o que puderam. como sigo fazendo pelas minhas próprias crianças. pessoas muito queridas.
divido o tempo que passo aqui entre afetos e efeitos, dando a tudo isso o sentido possível de dizer. aqui, lá, em qualquer lugar.